Theories of Intelligence

Teorias da Inteligência

Teorias da Inteligência: Do fator g de Spearman ao moderno modelo Cattell‑Horn‑Carroll

O que, exatamente, significa ser “inteligente”? Desde o início da psicometria no começo dos anos 1900, estudiosos têm oferecido respostas concorrentes. Este artigo guia os leitores por três das perspectivas mais influentes—o fator g, a teoria triárquica de Sternberg e o modelo Cattell‑Horn‑Carroll (CHC)—traçando como cada uma explica o desempenho cognitivo humano, onde convergem e por que o debate ainda é importante para educação, testes e políticas de trabalho.


Índice

  1. Fator g de Spearman: A Semente da Psicometria
  2. Teoria Triárquica de Sternberg: Além do Escore do Teste
  3. Teoria Cattell‑Horn‑Carroll: Inteligência Fluida & Cristalizada em uma Hierarquia
  4. Visão Comparativa & Implicações Práticas
  5. Debates em Andamento & Direções Futuras
  6. Notas Finais

1. Fator g de Spearman: A Semente da Psicometria

1.1 Contexto Histórico

O psicólogo britânico Charles Spearman (1904) analisou dados de exames escolares e notou um padrão curioso: alunos que se destacavam em clássicos também tendiam a se sair bem em matemática, música e quebra-cabeças de raciocínio. Usando a técnica recém-inventada de análise fatorial, Spearman extraiu uma única variável latente que chamou de g (inteligência geral) para explicar essa manifold positiva de correlações. Ele argumentou que toda tarefa cognitiva depende de dois ingredientes:

  • g — uma energia mental universal
  • s — uma habilidade específica para a tarefa (ex.: verbal, espacial)

Na visão de Spearman, as diferenças em g eram quantitativas: algumas pessoas simplesmente tinham mais capacidade mental geral do que outras, muito parecido com a capacidade pulmonar para atletas. Testes de QI como o Stanford‑Binet posteriormente operacionalizaram g como um único escore índice. Hoje, o primeiro fator (não rotacionado) das baterias modernas de QI ainda responde por cerca de 35–50 % da variância entre os subtestes—suporte empírico para a percepção de Spearman, com mais de um século.1

1.2 Forças & Limitações

  • Poder preditivo: g correlaciona-se com sucesso acadêmico, desempenho no trabalho e até resultados de saúde.
  • Parcimônia: um único construto simplifica o desenvolvimento de testes e a modelagem estatística.
  • Críticas: reducionista; sub-representa criatividade, sagacidade social, motivação e contexto cultural.

2. Teoria Triárquica de Sternberg: Além da Nota do Teste

2.1 Três Facetas da Inteligência

Insatisfeito com a visão preditiva limitada do QI, o psicólogo Robert Sternberg propôs em 1985 que a inteligência é um conjunto de habilidades mentais de autogerenciamento expressas em três domínios:

Componente Processos Centrais Tarefas Ilustrativas
Analítico Metacomponentes (planejamento, monitoramento), componentes de desempenho (resolução de problemas) Quebra-cabeças lógicos, testes padronizados, ensaios acadêmicos
Criativo Gerar ideias novas, automatizar respostas familiares Escrever um conto, criar uma nova receita, descoberta científica
Prático Adaptar-se, moldar e selecionar ambientes do mundo real Navegar na política do escritório, consertar um eletrodoméstico, esperteza de rua

Sternberg argumentou que os exames de QI medem principalmente a inteligência analítica, negligenciando a percepção criativa que impulsiona a inovação e o conhecimento prático que determina o sucesso fora da sala de aula. Ele validou o modelo com avaliações diversificadas — por exemplo, fazendo os alunos inventarem campanhas de marketing (criativo) ou organizarem móveis em um cômodo apertado (prático) — e descobriu que incluir essas pontuações melhorava a previsão do GPA universitário e do desempenho no trabalho.2

2.2 Impacto Educacional

  • Os currículos agora incluem aprendizagem baseada em projetos para cultivar a criatividade e a transferência de problemas.
  • Ensaios e portfólios para admissão universitária tentam explorar facetas práticas & criativas.
  • Os criadores de testes padronizados (por exemplo, OECD PISA) adicionam itens de resolução colaborativa de problemas em alinhamento parcial com a crítica de Sternberg.

3. Teoria Cattell-Horn-Carroll (CHC): Inteligência Fluida & Cristalizada em uma Hierarquia

3.1 De duas para dez habilidades amplas

O modelo CHC é o ápice de mais de 60 anos de pesquisa fatorial analítica por Raymond Cattell, John Horn e John Carroll. No seu núcleo estão duas habilidades amplas:

  • Inteligência fluida (Gf) — habilidade de raciocínio em situações novas, independente do conhecimento adquirido.
  • Inteligência cristalizada (Gc) — profundidade e amplitude de informações aprendidas, linguagem, conhecimento cultural.

A mega-análise de Carroll de 1993 integrou mais de 460 conjuntos de dados para revelar uma hierarquia de três estratos:

  1. Fator geral (g) no topo;
  2. Aproximadamente 10 habilidades amplas (incluindo Gf, Gc, velocidade de processamento Gs, visual-espacial Gv, auditiva Ga);
  3. Mais de 70 habilidades específicas (ex.: codificação fonética, relações espaciais, fluência ideacional).

A maioria das baterias modernas de testes cognitivos (WISC‑V, Woodcock‑Johnson IV) são explicitamente construídas com base no CHC, tornando-o o padrão ouro psicométrico atual. Os profissionais podem identificar os pontos fortes da criança — por exemplo, alto Gf mas baixa velocidade de processamento — para personalizar intervenções.3

3.2 Desenvolvimento & Envelhecimento

  • Gf atinge o pico no final da adolescência, depois declina suavemente.
  • Gc aumenta durante a meia-idade à medida que vocabulário e expertise se acumulam.
  • Curvas interativas do ciclo de vida explicam por que grandes mestres de xadrez podem se manter competitivos mesmo quando a velocidade bruta diminui — seus vastos esquemas cristalizados compensam.

4. Visão Comparativa & Implicações Práticas

Estrutura Estrutura Contribuição Primária Configurações Aplicadas
Spearman g Fator geral único + fatores específicos Base estatística do QI; prevê diversos resultados na vida Admissões, triagem militar, epidemiologia
Triárquica de Sternberg Três inteligências interativas (analítica, criativa, prática) Amplia a definição além do acadêmico Design curricular, treinamento de liderança
CHC Hierárquico; 1 geral, ≈10 amplas, 70+ habilidades específicas Perfis diagnósticos detalhados Planejamento de educação especial, avaliação neuropsicológica

Resumo: Use g quando precisar de um resumo rápido e preditivo; aproveite CHC para profundidade diagnóstica; adote Sternberg quando criatividade e esperteza prática forem importantes.


5. Debates em Andamento & Direções Futuras

  • Inteligências Múltiplas (Gardner) vs. g: desafios de replicação empírica, mas apelo pedagógico.
  • Justiça cultural: Pesquisadores argumentam que g é parcialmente um artefato da escolarização ocidental; métodos de avaliação dinâmica buscam medidas com menor influência cultural.
  • IA & Big Data: Análises fatoriais por aprendizado de máquina de telemetria de jogos e pegadas digitais podem refinar ou revolucionar as taxonomias atuais.
  • Neurociência conecta: A inteligência fluida correlaciona-se com a eficiência da rede fronto-parietal; o insight criativo com a conectividade do modo padrão—oferecendo âncoras biológicas para construtos psicológicos de longa data.

Notas Finais

  1. Entrada da Britannica sobre Charles Spearman e o fator g.
  2. Visão geral da Wikipedia sobre a Teoria Triárquica de Sternberg (atualizada em 2025).
  3. Manual Oxford Bibliographies sobre a teoria Cattell‑Horn‑Carroll (edição 2024).

Aviso: Este conteúdo educacional resume teorias acadêmicas da inteligência para o público geral. Não é uma ferramenta diagnóstica e não deve substituir avaliações formais por psicólogos licenciados.

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